Qual a diferença entre um mito e uma lenda?
A lenda é uma história criada do nada, que não leva a lugar algum e tenta justificar algo que não existe.
O mito, por sua vez, é uma narrativa com base real: você explica ou tenta explicar algo, mas não consegue totalmente. Ou seja, o fato existiu ou há uma base real, mas a pessoa que conta “aumenta” a história para justificar o que aconteceu.
Por exemplo: os gregos sabiam o que era um raio, pois o viam no céu, mas não entendiam como aquele fenômeno acontecia. Então, criaram o mito de Zeus, o pai dos deuses.
Hoje estamos comemorando o aniversário do mito de São Cristóvão: um homem que ajudou a fundar o clube de futebol, jogava em todas as posições, era um bom moço e um verdadeiro destaque em sua época. Jogou pela seleção carioca e chegou a ser cotado para a seleção brasileira. Esse era João Cantuária.
Mineiro da cidade de São João del-Rei, o lendário Cantuária nasceu no dia 29 de setembro de 1894 (embora algumas fontes apontem o dia 28 e ano diferente) e pertencia a uma família tradicional que ajudou a escrever a história militar do Brasil.
Seu avô materno foi o Marechal João Tomás de Cantuária, combatente na Guerra do Paraguai e integrante do Ministério da Guerra. Pelo lado paterno, era neto do Dr. Cardoso de Menezes, renomado médico e músico.
Mantendo a tradição familiar, o pai de Cantuária também seguiu a carreira militar: o Major João Cantuária. Sua mãe era Dona Felícia Cardoso de Menezes Cantuária. O jovem Cantuária tinha um irmão, Carlos de Menezes Cantuária, conhecido como “Dócio”, que também fez parte da história do clube. Não podemos deixar de citar sua irmã, Herminda Cantuária de Araújo, casada com um dos fundadores do clube, Paulo Valeriano de Araújo.
Juntamente com seu irmão e outros companheiros, assinou a ata de fundação do São Cristóvão A.C., mas já era jogador de futebol muito antes disso. Iniciou a carreira no Riachuelo, em 1908, e no Mangueira, em 1909. Também teve alguma participação no Palmeiras, do bairro de São Cristóvão. Desde a fundação e dos primeiros passos do futebol no clube, era considerado um homem-símbolo: dedicado e apaixonado pela camisa.
O São Cristóvão foi criado na Rua Bela de São João (hoje apenas Rua Bela), na presença de 19 pessoas — e Cantuária estava lá. O primeiro registro de Cantuária atuando pelo time data de 11/07/1909, no segundo quadro.
Seu primeiro torneio oficial foi a Seletiva de 1911. A LMSA (Liga Metropolitana de Sports Athleticos) decidiu oferecer uma vaga na primeira divisão do Rio de Janeiro, e quatro equipes disputariam a chance de chegar à glória: São Cristóvão x Bangu e Paissandu x Mangueira.
A equipe do Bairro Imperial enfrentaria o Bangu, um time mais experiente, que já havia jogado a primeira divisão. Mas isso não foi suficiente para parar os jovens do São Cristóvão. O primeiro jogo terminou empatado, no campo do Botafogo (Rua Voluntários da Pátria). No segundo, disputado nas Laranjeiras, Cantuária marcou o primeiro gol oficial do clube e o time venceu por 2 x 0, eliminando o Bangu.
Infelizmente, a equipe acabou derrotada pelo Paissandu. Ainda assim, naquele mesmo ano, participou da segunda divisão, consolidando sua presença no futebol carioca.
João Cantuária participou da primeira vez em que o time disputou a primeira divisão, em 1912. Oito clubes participaram daquela edição: América, Fluminense, Paissandu e Rio Cricket. Além deles, foram convidados o Bangu, o São Cristóvão e o Mangueira — todos vindos da segunda divisão (campeão, vice e terceiro colocados).
Cantuária também esteve presente no primeiro amistoso interestadual do clube (São Cristóvão x Ypiranga-SP) e no primeiro jogo internacional (São Cristóvão x Marinheiros do Cruzador Orotawa, da Inglaterra). Não podemos esquecer ainda de sua participação na inauguração do campo, em 1915, e depois na abertura do Estádio da Figueira de Melo, em 1916, em partida contra o Santos.
Mas a vida, infelizmente, interrompeu sua trajetória cedo demais. Em pleno vigor e pronto para conquistas ainda maiores, João Cantuária foi vitimado pela Gripe Espanhola. O Rio de Janeiro vivia uma grave pandemia dessa doença, que levou a vida de dezenas de cariocas — e Cantuária foi um deles.
Ele havia sido convocado para a Seleção Carioca para um amistoso. Tanto ele quanto um jogador do Flamengo apresentaram sintomas e retornaram para casa. O atleta rubro-negro se recuperou, mas, infelizmente, Cantuária não resistiu, falecendo no dia 18 de outubro de 1918.
Seu corpo foi velado no Salão Nobre do clube, e o cortejo fúnebre ocorreu no dia 26/10, pela manhã. Diversas coroas de flores foram enviadas, principalmente por Palmeiras e Fluminense, mas também por outros clubes, como o Tijuca Tênis Clube, que deixaram suas homenagens. O corpo de Cantuária repousa no Cemitério de São Francisco Xavier.
Em 1919, o Goytacaz organizou um torneio de três jogos contra o São Cristóvão, denominado Taça Cantuária. Quem vencesse duas partidas ficaria com o troféu em definitivo — e ele permanece até hoje no clube. Foram realizados dois jogos válidos pelo torneio, um em 1921 e outro em 1925. Também há registro de outra competição: a Taça João Cantuária, disputada em 1919 em um confronto contra o Fluminense.
Cantuária marcou 31 gols e participou de diversos campeonatos interestaduais e internacionais. Atuou também em uma partida entre Brasileiros x Chilenos (um protótipo da futura Seleção Brasileira), vencida pelos brasileiros por 2 x 1.
Seu primeiro título foi a conquista da Segunda Divisão dos Segundos Quadros, em 1911. Já em 1918, pouco tempo antes de falecer, conquistou o título do Torneio Início.
![]() |
| Esse foi o jogo que ele não jogou ( a confirmar) |
Parabéns Cantuária, você verdadeiramente honrou a camisa do São Cristóvão em vida e além dela.




