FIGUEIRA DE MELO : MOMENTOS MARCANTES.
| FOTO: MATHEUS FREITAS |
Uma casa, um lugar lendário : Hoje iremos falar um pouco sobre a Figeira de Melo.
| ANO 1971: FOTO CEDIDA PELO COLABORADOR TIAGO BANDEIRA |
FIGUEIRA DE MELO – RONALDO NAZÁRIO
Um time de futebol que tem história e alma precisa de duas coisas: uma sala de troféus que conte sua trajetória e uma casa para chamar de sua. Todos os clubes considerados grandes e tradicionais têm um estádio que representa essa identidade. O Ronaldo Nazário, antes chamado de Figueira de Melo, é a casa do bicampeão carioca São Cristóvão e, certamente, é um dos estádios mais legais e "raiz" para se visitar e assistir a um jogo.
Atualmente, é o estádio mais antigo em uso no Rio, já que as Laranjeiras não recebem mais partidas oficiais. Por isso, esse patrimônio da cidade carrega consigo um título simbólico: o de guardião vivo da história do futebol carioca.
Palco de inúmeras histórias, o Ronaldo Nazário preserva mitos e lendas do futebol carioca e até internacional.
O campo foi inaugurado em 1916, em um jogo contra o Santos. No dia 23 de abril, o estádio do São Christóvão Athletico Club foi inaugurado com uma grande festa. O jogo terminou empatado em 1 a 1 e contou com a presença de verdadeiros craques da época, como Cantuária, Rubens Portocarrero, João Rollo e o lendário Ari Patusca.
Cerca de seis mil pessoas assistiram à partida, que teve muito mais do que futebol: houve corrida de 100 metros (sim, o campo tinha pista de atletismo), torneio de esgrima e até luta romana!
Outro momento marcante foi o amistoso entre o Dínamo de Zagreb — na época, da antiga Iugoslávia — e o nosso bravo time dos cadetes. Além da presença de alguns jogadores europeus que participariam da Copa de 1954, o São Cristóvão recebeu reforços de peso para esse jogo.
A partida aconteceu no dia 22 de fevereiro e terminou empatada em 3 a 3. Para encarar o adversário, o São Cristóvão contou com “ajudas” do Vasco e do Madureira. Do Vasco veio o "aspirante" Nelsinho e, do Madureira, um tal de Evaristo de Macedo — que já estava de malas prontas para o Flamengo. Inclusive, foi ele quem marcou um dos gols da partida.
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| 1917 A CARETA |
A antiga Figueira de Melo passou por diversos momentos que entraram para a história do futebol local, carioca — e por que não dizer, nacional? A primeira partida internacional da equipe dos Cadetes aconteceu justamente na Figueira: um amistoso contra os marinheiros do cruzador "Orotawa", da Inglaterra. Os garotos do subúrbio venceram por 4 a 1, em um jogo histórico que contou com a presença dos irmãos Cantuária e de Luiz Vinhaes, lendário jogador e técnico que viria a ser campeão em 1926.
A primeira partida contra um time estrangeiro oficialmente reconhecido — caso o leitor não considere o amistoso anterior — aconteceu em 1936, quando os Cadetes receberam a equipe argentina do Estudiantes de La Plata. Desta vez, o time do bairro imperial foi derrotado por 5 a 1. O Estudiantes encerraria aquela temporada na quinta colocação do campeonato argentino.
| FOTO CEDIDA POR TIAGO BANDEIRA |
Outro feito a ser lembrado que aconteceu no estádio da Figueira de Melo foi em 1937, em partida válida pelo Campeonato Carioca. Nessa época, o São Cristóvão vivia um bom momento: fazia sucesso em campo, contava com ótima presença de público em casa e chegou a ocupar a quinta posição em arrecadação, ficando à frente do América, com uma receita de 401:667$000.
Para quem não conhece a história, a liga da qual o clube participava — e que ele liderava — foi extinta. Com isso, o São Cristóvão passou a integrar uma nova liga, fruto da unificação dos campeonatos, formando um único torneio. O campeão dessa “nova” liga foi o Fluminense, que dominou amplamente a competição, sofrendo apenas uma única derrota em toda a campanha — justamente para o São Cristóvão, dentro da Figueira de Melo.
A partida aconteceu no dia 30 de outubro, e teve um verdadeiro show de Caxambú, jogador da casa que, na época, era comparado a craques como Leônidas, Afonsinho e Carreiro. O São Cristóvão foi o único time capaz de superar o Fluminense naquele campeonato, e a vitória foi realmente incontestável.
No momento de maior dificuldade da sua história — quando o fechamento do clube quase se concretizou — o São Cristóvão e o Estádio da Figueira de Melo (hoje chamado Estádio Ronaldo Nazário) conquistaram uma grande vitória: o tombamento histórico do local!
Em 2020, o estádio finalmente recebeu o reconhecimento histórico e cultural que sempre mereceu. O clube tem um valor imenso para o esporte brasileiro: o futebol carioca (e nacional) também foi construído com a participação direta do São Cristóvão e de sua tradicional praça de esportes.
A ação foi liderada pelo próprio clube, em parceria com o vereador Carlos Caiado (DEM). O projeto foi aprovado pela Câmara dos Vereadores, mas vetado pelo então prefeito Marcelo Crivella. Apesar disso, o veto foi derrubado posteriormente. Resultado: a nossa casa é oficialmente tombada!




