Antes de contar como foi a trajetória da volta do São Cristóvão para o cenário do futebol carioca, precisamos mostrar o contexto de como o clube chegou à ausência de um time de futebol profissional.
O último Campeonato Carioca da primeira divisão foi disputado pelo time do Bairro Imperial em 1995, numa campanha que decretou o rebaixamento e marcou a última vez que o clube enfrentaria a maioria dos grandes. Por que "maioria"?
O último lampejo de grandeza do time foi em 1998, quando foi vice-campeão da Copa Rio, perdendo a final para o Fluminense. O time que disputou aquela final foi:
Zé Carlos
Wendel, César, Alexandre e Danílson
Willian (Bebeto), Peterson, Wallace (Marco Aurélio) e Fabiano
Gutenberg (Cristiano) e Arnaldo
Técnico: Jorge Madeira
O treinador era uma verdadeira lenda no clube. Atuou como lateral e volante entre os anos de 1970 e 1976. Após a aposentadoria, ocupou diversos cargos, mas foi como treinador que demonstrou todo seu potencial, salvando o clube de diversas situações complicadas e quase conquistando a Copa Rio. Pelos serviços prestados, foi homenageado em 2015 com o título de Sócio Benemérito.
O clube já andava mal das pernas. Chegou a participar da Copa João Havelange em 2000, no módulo Verde-Branco (terceira divisão).
Mas, após essa participação, a situação do clube se agravou muito, sendo rebaixado ano após ano, com campanhas lamentáveis, destruindo uma história linda construída ao longo dos anos.
Diversos momentos de crise foram registrados nesse período, e um deles que merece destaque é o de 2013.
Nesse ano, a situação financeira estava tão complicada que até o aparador de grama, avaliado na época em mil reais, foi penhorado. Os aparelhos de musculação também acabaram entrando na “dança” da penhora, o que rendeu cinco mil reais para o pagamento de dívidas trabalhistas.
José Quincas, presidente na época, lutava para manter o clube aberto, já que o time havia sido rebaixado para a antiga Série C (quarta divisão) em 2012.
Mesmo com Jorge Madeira assumindo o comando técnico em 2012, o clube não se livrou do vexame — e o fundo do poço viria em 2019.
A QUARTA DIVISÃO 2019- O FUNDO DO POÇO
A Quarta Divisão de 2019 foi o último torneio que a equipe disputaria até 2023. Foram quatro anos de ausência do time profissional, por conta de problemas financeiros que quase levaram ao fechamento do clube. Inúmeros parceiros e investidores foram buscados nesses anos, mas de nada adiantou. O clube iniciou o ano de 2019 atolado em dívidas e incertezas — e isso se refletiria no desempenho dentro de campo.
O time estava no Grupo B, ao lado de Campo Grande, Ceres (que seria o campeão), Paduano e CAAC Brasil — um grupo difícil, com camisas tradicionais do futebol carioca. O São Cricri fez uma campanha muito irregular e foi eliminado logo de cara, após oito jogos: três vitórias, três empates e duas derrotas.
Naquele momento, encerrava-se o futebol profissional do clube.
Em 2020, fomos atingidos pela pandemia, o que impediu a realização dos campeonatos das divisões inferiores. Com isso, a situação, que já era grave, ficou extremamente complicada.
Em 2021, havia a expectativa de retorno aos gramados no pós-pandemia, mas ela não se concretizou. Naquele ano, a diretoria do clube optou por solicitar licença das competições oficiais.
O clube seria incluído na recém-criada Quinta Divisão, organizada pela FERJ, com o objetivo de oferecer calendário competitivo a diversos clubes e estimular o desenvolvimento do futebol de base, já que a maioria dos jogadores inscritos seria da categoria Sub-23.
Quando um clube pede licenciamento, ele tem um prazo para retornar às competições. Caso isso não ocorra, o clube pode ser excluído do quadro de filiados da Federação. Na época, havia negociações com um investidor, mas o acordo não se concretizou, e o clube confirmou oficialmente o pedido de licença, que perdurou até o ano de 2022.
A VOLTA EM 2023
A pandemia trouxe por um lado muitas dificuldades, mas por outro lado, foi o tempo necessário para arrumar a casa. O atual presidente Machado conseguiu em poucos anos arrumar a casa e fazer que o clube voltasse a disputa dos campeonatos. Com pouco tempo de atividade , já que a quinta divisão acontece no primeiro semetre e de curta duração, era vital montar um time certeiro com pouco investimento e capaz de levar o clube de volta a outras divisões. Covenhamos que a quinta divisão , não é lugar do São Cristóvão.
Para reerguer o clube, nada melhor do que sangue novo — mas com perfil ousado e de campeão! Diogo Brandão foi o escolhido para assumir a "bucha".
O jovem técnico comandou uma equipe igualmente jovem rumo ao título estadual da Quinta Divisão (Série C) em 2022. A equipe de Belford Roxo foi a melhor do campeonato do início ao fim, liderando de ponta a ponta.Eliminou times novos e tradicionais ao longo do torneio e, na final, venceu o Rio de Janeiro FC. Uma campanha quase perfeita para a promissora equipe liderada por Brandão.
Brandão montou uma equipe formada por jovens e por diversos jogadores que vinham justamente do Belford Roxo. Com pouco tempo para treinamentos e o início do campeonato se aproximando, ele precisava de atletas de confiança e já entrosados para encarar o desafio.
Vale lembrar que o presidente Machado conseguiu uma verdadeira proeza: fazer com que o time voltasse a mandar jogos em sua lendária casa, a Figueira de Melo — que não via sua equipe principal em campo havia muitos anos.
Aquela Série C contou com 22 times — um verdadeiro recorde de participações. Como de costume nos campeonatos da FERJ dessa divisão, houve clubes excluídos por não pagamento de taxas e por escalação irregular de jogadores. O São Cristóvão, que nada tinha a ver com essas confusões, fez simplesmente o seu trabalho.
A primeira fase do time foi quase perfeita. Em 11 jogos, foram nove vitórias e apenas duas derrotas, com um saldo positivo de 15 gols.O São Cristóvão brigou ponto a ponto pelo título do primeiro turno com o Uni Souza e o Zinzane, que estava no Grupo A — e conseguiu levar o troféu do turno (foto do troféu no início).
Foi um retorno mais do que justo. Com trabalho sério e dedicação, a equipe conquistou esse título como coroação da sua volta ao cenário. Era uma questão de tempo: o São Cristóvão não apenas voltou com um título, mas também viu os torcedores retornarem à Figueira de Melo, viu seu nome novamente nos holofotes do futebol carioca e reacendeu a chance de colocar o clube de volta nos trilhos.
Mas a verdadeira batalha ainda estava por começar...
Nas quartas de final, o time enfrentou o Mesquita, que se mostrou um adversário digno. No entanto, a força da Figueira de Melo falou mais alto, e a equipe avançou.
Na semifinal, o desafio foi contra a Uni Souza — a mesma que havia sido uma pedra no sapato durante o primeiro turno. Foram dois jogos duríssimos, mas os Cadetes conseguiram empatar uma partida e vencer a outra pelo placar mínimo, garantindo vaga na grande final.
A única equipe capaz de parar nossos “soldados” foi a Zinzane, que contava com um poder de investimento superior e acabou levando o caneco.Ainda assim, nada apaga a excelente campanha e o retorno digno do time bicampeão carioca.
O time conquistou a vaga para a quarta divisão, disputada ainda em 2023 e os deuses do futebol estavam guardando o melhor para aquele campeonato, monstrando que o gigante do bairro Imperial , deveria voltar para onde nunca deveria ter saído.
Artilheiros da equipe :